DELT CONECTA #1: Laura Mendes, da Infância em BH aos palcos de Chicago

O Departamento de Engenharia Eletrônica da Escola de Engenharia da UFMG tem o orgulho de anunciar o início de uma nova série em seu site, chamada “DELT CONECTA”. Este espaço é dedicado a trazer histórias inspiradoras e projetos que, de alguma forma, estão conectados com o nosso departamento. Na nossa primeira edição, destacamos a trajetória inspiradora de Laura Mendes, uma talentosa bailarina e filha do Professor Marcos Antônio Severo, membro do nosso departamento.

Laura Mendes: Da UFMG para o Palco Internacional

Laura Mendes, natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, é uma jovem que encontrou sua paixão pela dança de maneira única. Apesar de vir de uma família sem histórico artístico, Laura descobriu a dança como uma forma de expressão e vocação. Desde pequena, Laura foi ativa, praticando diversos esportes no Clube Jaraguá, próximo à UFMG. No entanto, sentia falta de algo que trouxesse significado para suas atividades.

“A dança surgiu como uma resposta,” relembra Laura. “Eu sempre fui muito ativa, mas sentia falta de um sentido que amarrasse tudo, algo significativo. A dança é arte, não é só repetição dos exercícios. Comecei a me entender mais, me pareceu algo vocacional.” Laura se envolveu com jazz, balé e dança contemporânea, e quanto mais tempo passava no palco, mais sentido fazia para ela. “Foi espontâneo, mas gradual e profundo,” ela acrescenta.

Laura iniciou sua carreira no Brasil e, aos 15 anos, emancipou-se para seguir sua paixão internacionalmente, realizando viagens para cidades como Berlim. Hoje, aos 23 anos, é uma das primeiras dançarinas negras em uma das maiores academias de dança de Chicago, a Visceral Dance. Desde 2023, ela é membro da companhia, tendo sido promovida a solista em apenas cinco meses de contrato. Atualmente, Laura dá corpo e movimentos à personagem-título de “Carmen.maquia”, baseada na intensa e sedutora cigana da ópera de Georges Bizet, um papel que ressoa profundamente com sua própria história de determinação e busca por liberdade.

“É muito importante como dançarina entender que o humano vem em primeiro lugar,” Laura explica. “É essencial para o público que a dança e a humanidade estejam relacionadas, permitindo que as pessoas se conectem com o que está acontecendo no palco. Quando soube que pegou o papel da Carmen, foi muito pessoal. Trata-se de uma mulher cigana da Espanha, que sabe o que quer e que nada vai entrar no caminho dela, espírito de Touro. Ela é nova, quer divertir-se e não pensa muito nas consequências. Ela morre no final por paixão e obsessão, quer viver a vida livre sem pensar nas consequências.”

Laura destaca a importância de utilizar sua identidade a seu favor. “Eu sou negra, latina, imigrante. Eu não separo, uso esse sentimento a meu favor. O que nos torna diferentes também nos faz únicos,” afirma.

Uma Jornada de Determinação e Apoio Familiar

Laura expressa gratidão pelo apoio incondicional de sua família. Inicialmente, seus pais tiveram dificuldades em visualizar a dança como uma carreira séria. “Eu ia para aula de dança e todo ano meus pais avisavam que seria o último. Sou muito grata ao COLTEC, que é ensino público de qualidade, sem ele eu não teria recursos para a dança.” Vinda de uma família com fortes raízes acadêmicas, Laura conta: “Meu pai foi direto para a UFMG e, da graduação, tornou-se professor no DELT. Meu irmão também está na engenharia elétrica, na Unicamp. Minha família toda nesse mundo e eu em outro mundo.” Aos poucos, seu pai e sua mãe compreenderam e abraçaram sua paixão, tornando-se seus maiores apoiadores. “Foi difícil de eles entenderem, mas quando entenderam, foi uma mudança pela qual sou muito grata. Sem minha família, eu não estaria aqui hoje.”

Seu pai, Marcos Antônio Severo, é professor do DELT e teve um papel crucial no desenvolvimento de Laura. “O que meu pai mais me ensinou é a solução de problemas, essa mentalidade de colocar as coisas em prática, como resolver, como pensar do jeito mais lógico,” relata Laura. Este apoio e ensinamentos foram fundamentais para que ela pudesse enfrentar os desafios de seguir uma carreira artística em um ambiente familiar voltado para as ciências exatas.

Conquistas e Desafios

Laura fez sua estreia coreográfica em Nova York, colaborando com renomados coreógrafos como Greg Lau, Yoshito Sakuraba, Antonia Franceschi e Yin Yue. Ela também foi membro da companhia e assistente de ensaios do Joffrey Ballet Concert Group por duas temporadas. Além de sua carreira na dança, Laura também tem se envolvido em trabalhos comerciais, participando de campanhas para Amazon Prime, Vogue e SohoHouse New York Fashion Week. Sobre as marcas com as quais trabalhou, Laura menciona a Pantene e Renner, destacando que foi quando começou a ser remunerada e ganhar prêmios em dinheiro em concursos. Ela também relembra momentos emocionantes, como a graduação no Joffrey em Nova York, onde seus pais puderam assistir a única apresentação dela durante os quatro anos de estudos.

A rotina de Laura inclui aulas, ensaios, apresentações e, mesmo após os espetáculos, ainda há responsabilidades a cumprir. Apesar da intensidade, Laura destaca a importância de manter-se motivada e focada nos objetivos. Laura Mendes sonha em continuar explorando as muitas possibilidades que a dança oferece, incluindo direção e coreografia. “Estou muito feliz onde estou agora,” diz ela, refletindo sobre suas conquistas e aspirações futuras. “Meu espetáculo dos sonhos seria com a Netherlands Dance Theater. Estive nesse programa em 2022 e percebi que a dança tem muitas possibilidades, incluindo dirigir e coreografar, que eu não excluo do meu radar.”

Mesmo vivendo nos Estados Unidos, Laura sente falta de aspectos do Brasil. “A comida, todo mundo fala, sinto muita falta. Dou meus pulos. Muitas vezes passam três semanas que estou apertada, não consigo falar com meus pais, então são três semanas sem falar o português, minha língua nativa. Sinto que o tempo no Brasil passa mais devagar. Aqui estou sempre fazendo algo, resolvendo algo, ensaiando. Sinto falta da paz, do café depois do almoço. São coisas pequenas que eu daria tudo para ter. Minha mãe inclusive está trazendo café, não tem Três Corações aqui “, comenta Laura.

Mensagem de Incentivo

Para os alunos e jovens do DELT, Laura deixa uma mensagem inspiradora: “Em nome da minha ancestralidade, pensar quem eu sou e de onde eu vim, meu maior conselho seria: Não estamos sozinhos, não tenha medo de pedir ajuda. Acredite em você, no seu potencial e no que você tem a oferecer para o mundo. Não tenha medo de ser único e honrar quem você é. Se você acredita em você, fica mais fácil para as pessoas acreditarem também. Às vezes parece que você está abrindo mão de várias coisas para conquistar seu grande sonho, mas quando você chega lá é tão gratificante. Tem muitos momentos que a gente questiona se está trilhando um bom caminho, mas se é certo para você, tem que investir. Manter a mente aberta é importante também, nunca ser teimoso, deixar a mente e o coração abertos para o universo abrir seus caminhos”.

No “DELT CONECTA”, continuaremos a compartilhar histórias como a de Laura, que inspiram e conectam nossa comunidade. Aproveite também para nos seguir no Instagram, lá estaremos postando conteúdos parecidos mas em formato de vídeo.